Minha viagem pelo norte da Itália em uma Vespa – “Por uma noite, fomos os reis de Milão”

Minha viagem pelo norte da Itália em uma Vespa – Mantua, Nomeada pela UNESCO como patrimônio da humanidade por seu charmoso cenário renascentista.

Mantua, Nomeada pela UNESCO como patrimônio da humanidade por seu charmoso cenário renascentista. Foto: Xbrchx / Adobe Stock

Subimos na nossa Vespa, nós finalmente conseguimos. Por uma noite, fomos os reis de Milão.

Como muitos de vocês devem saber, o norte da Itália é recheado de cidades e vilas pitorescas. Um destes exemplos é Mantua, uma cidade nomeada pela UNESCO como patrimônio da humanidade graças ao charme renascentista do seu cenário urbano. Visitar estas cidades é realmente uma experiência única, pois você vai se ver rodeado por arte, obras primas da arquitetura, e natureza exuberante. No entanto, viajar de uma cidade para outra é a melhor parte desta viagem. E neste artigo eu vou falar sobre a viagem mais fantástica que já fiz na minha vida.

Certo dia, eu e um amigo estávamos em Peschiera, uma cidade ao sul do lago Garda, o maior corpo de água da Itália. Era um dia qualquer de março, e o dia estava perfeito: sem nuvens no céu, com uma brisa fresca vindo do norte. Estávamos na cidade esperando um trem para Milão pois iríamos à um festival de música naquela noite. Já que chegamos cedo, decidimos relaxar no lago aquela manhã, e pegar o trem para Milão durante a tarde.

Enquanto relaxávamos num banco próximo ao lago, fumando enquanto contávamos piadas um para o outro, eu tive uma epifania. De repente, a figura de Giorgio Bettinelli apareceu na minha mente. Para aqueles que não sabem do que eu estou falando, ele é um ex-letrista, que passou parte da sua vida viajando ao redor do mundo a bordo de uma scooter Vespa. Sobre aquelas duas rodas, ele cruzou quase todos os países do mundo, da Austrália ao Iêmen, do Alasca até a Terra do fogo. O mais importante fator de todos, é que ele era um dos meus maiores ídolos.

Minha viagem pelo norte da Itália em uma Vespa –Lago Garda,

Lago Garda, Itália.Foto: Maria Michelle / Pixabay

Durante o meu primeiro ano de universidade, eu li um livro de Bettinelli chamado “Na Vespa”, no qual ele narra a sua primeira viagem de Vespa de Roma à Saigon, uma cidade vietnamita também conhecida como “Ho Chi Minh”. Este livro realmente me impressionou. Desde então eu vim sonhando em viajar para algum lugar distante com a minha própria scooter, mesmo que fosse por apenas alguns quilômetros.

Já que Milão fica a 137 quilômetros de Peschiera, eu disse ao meu amigo: “E se a gente fosse para Milão de scooter? O GPS informou que isso dá umas três horas de distância pelas estradas provinciais. Se sairmos agora, chegaremos em Milão antes do jantar.” Meu amigo me olhou por um momento, mas depois sorriu enquanto dizia: “Por quê não? Vamos lá.”

Subimos na minha Vespinha e fomos para o Oeste. Alguns quilômetros depois, cruzamos a primeira fronteira: Deixávamos a região de Veneto para trás, e entramos na Lombardia, enquanto nos aproximávamos de Sirmione del Garda. Ainda tínhamos um longo caminho a percorrer, mas aquilo já foi um primeiro passo. Os primeiros 30 quilômetros da nossa viagem nos revelou um panorama estonteante: colinas suaves abraçavam gentilmente dois lindos vilarejos, Lonato del Garda e Montichiari. Seus castelos empoleirados e suas igrejas com torres azuis abobadadas perfuravam o céu, enquanto nós apenas passamos, admirando a paisagem.

Músico, autor, aventureiro, Giorgio Bettinelli.

Músico, autor, aventureiro, Giorgio Bettinelli. Foto: G.B. Facebook

Depois que passamos estas duas cidades, a paisagem se tornou totalmente plana: campos verdejantes se alongavam até onde a vista conseguia alcançar. Nós havíamos entrado no Vale Po, a maior planície da península italiana que cobre quase todas as regiões do norte. Eu e meu amigo estávamos compartilhando um headphone, cada um com um fone diferente. A playlist de jazz e rock que ouvíamos naquele trecho da estrada combinou perfeitamente com o momento.

Naquele ponto, deixamos 50 quilômetros atrás de nós, e decidimos parar em um posto de gasolina perto de Offlaga. Se você está se perguntando por quê este nome soa familiar, é porquê este é o nome de uma banda de música eletrônica italiana, mais conhecida como “Offlaga disco pax”, que ganhou este nome graças a sonoridade estranha da palavra.

Descemos da nossa Vespa e alongamos as nossas pernas. Tomamos dois cafés expressos, e logo depois estávamos prontos para cair na estrada novamente. Havíamos cobrido metade do caminho, e estávamos bem feliz a respeito.

Minha viagem pelo norte da Itália em uma Vespa –Vale Po, Itália.

Vale Po, Itália. Foto: Hans Braxmeier / Pixabay

A próxima vila grande que vimos foi Orzinuovi, e enquanto a atravessamos, eu vi na minha esquerda uma outra vila grande. Não muito longe dali eu pude vislumbrar uma grande igreja arredondada, feita de tijolos vermelhos que se destacava na paisagem. Eu me perguntei à qual cidade pertencia aquela igreja tão solene, quando de repente o nome veio na minha mente: Era Crema, a vila natal de Giorgio Bettinelli

Esta visão encheu meu coração e minha mente de alegria. Eu percebi que estava fazendo uma espécie de peregrinação, e me senti como se estivesse, naquele momento e naquele local, saudando a pessoa que me ensinou a como levar minha vida à uma rota diferente – Eu deveria focar menos nos meus problemas e mais nas coisas que me inspiram a sonhar.

Com isso em mente nós chegamos na fronteira sul de Milão. O cenário começou a mudar: grandes complexos industriais começaram a aparecer à distância, todos envoltos em parques verdejantes. Aquilo era Metanopoli, uma cidade construída em 1952 pela ENI (Agência nacional de hidrocarbonetos) para os seus inúmeros funcionários.

Depois que atravessamos o subúrbio, cruzamos um grande viaduto. Mesmo que fosse quase 7 da noite e o céu estava ficando escuro, algumas luzes do por do Sol ainda iluminavam o céu.

A visão dos edifícios do centro de Milão encheram a mim e ao meu amigo de uma sensação incrível. Quatro horas desde que subimos na nossa Vespa, nós finalmente conseguimos. Por uma noite, fomos os reis de Milão.

 viagem pelo norte da Itália –A cidade de Milão sob a luz dourada do por-do-Sol.

A cidade de Milão sob a luz dourada do por-do-Sol. Foto: Alberto Ialongo / Adobe Stock

Este artigo apareceu pela primeira vez na revista Italics e foi republicada aqui com permissão do publicador.

Posted on: 18/09/2019